domingo, 10 de outubro de 2010

A peça que falta...

Os relatos de Marcos têm mexido um pouco comigo, têm abalado a minha estrutura. Tenho pensado muito na forma corriqueira que Jesus tinha de fazer as coisas... A forma pouco formal de se relacionar... Os desejos poucos comuns de profunda intimidade, de toque, de estar perto.
Muitas vezes sinto-me incomodado por sentir alguém tocar-me dentro de um autocarro, quando olham fixamente para mim, quando passo desapercebido numa situação de reconhecimento, quando não me agradecem pelo que fiz... Quão diferente sou de Jesus...
O homem que pedia para não contarem aquilo que tinha feito, que fugia do reconhecimento, que quando tentaram leva-lo para o coroar como rei simplesmente se ausentou, que procurava o contacto, que gostava de tocar e de ser tocado.
Lucas conta que um leproso, um dia, ajoelhou-se diante de Jesus e disse-lhe:
"Senhor, eu sei que se quiseres podes curar-me!"
Sabem, Jesus nunca fica indiferente a comentários como estes, no passado não ficou e hoje continua igual!
  Jesus não só lhe respondeu que o queria fazer, mas também lhe tocou, como prova de consideração e empatia pela sua vida. Quem se atreveria a tocar num leproso? Toda a sociedade onde Jesus habitava proibia o contacto com um leproso, proibia a comunhão com qualquer tipo de individuo com lepra, quando um leproso se aproximava teria de o fazer gritando, SOU UM IMUNDO!
Não gosto muito de toques de pessoas que não conheço, mas não consigo imaginar a minha vida sem o toque das pessoas que eu mais amo, sem sentir o seu calor, o seu carinho. Quem me conhece sabe que gosto muito dessas coisas, por isso, empaticamente, consigo me identificar com esse leproso.
Philip Yancei conta a história de um homem que se encontra impedido de receber, em sua casa, o casamento de sua única filha e de fazer parte do mesmo, conta-nos que passou horas chorando dentro do seu carro por causa da sua desfiguração (em "O Jesus que eu nunca conheci").
Vivemos numa sociedade que cultua a beleza! Gente desfigurada não é bem vinda, não é bom sermos identificados junto de pessoas assim... Que iram pensar de nós? Nossa popularidade certamente cairia em flecha, mais rápido que as acções de Wall Street após o 11 de Setembro.
Ainda assim Jesus esteve disposto a correr o risco. A vida daquele homem era mais importante que toda a sua reputação. Ele sabia que nunca deixaria de ser quem É por causa daquilo que os outros pensam, mais ainda, sabia que não deixaria de ser quem É por causa daquilo que os outros acreditam...
A sua missão? Mudar vidas!
O seu desejo? Que O conheçamos!
Uma amiga questionava-me se eu achava justo não crer em mim... Respondi-lhe que não sou de confiança, após ter-lhe falado acerca de tudo o que tinha vivido e como, Jesus, tinha restaurado a minha vida. Ela pensou que tinha sido com a minha força de vontade... Estou tão longe de ter força de vontade.
O Zé Esteves, muitas vezes, confrontou-me com a realidade de Jesus ser a peça principal na minha vida, sendo ela o elo de ligação de tudo o resto. No inicio julguei ser uma ideia interessante, poética até, mas uma vez que vivíamos num contexto espiritual resolvi experimentar... Hoje posso garantir que é a base da minha vida, tudo está ligado a ela e é resultado dela. Muitas vezes confundo-a comigo mesmo, pois está tão presente em mim, que inúmeras vezes não percebo onde começo e onde ela acaba...
É como entrarmos numa sala com cheiro a fritos, nós não naturalmente não cheiramos a fritos, mas uma vez expostos aos cheiros, eles se entranham em nossas roupas, nos nosso cabelos, ocultando o nosso verdadeiro odor. Ou se usarmos um bom perfume, deixamos de sentir o nosso cheiro passando a cheirar a algo bom (claro que algumas pessoas o perfume só não chega, mas isso é outra pregação).
Novamente friso o meu amigo e líder  Zé Esteves, recordo-me de o ouvir dizer: "Tira-me Jesus e cheiro mal..."
Fruto de tempo que passamos com Ele, cheiramos a Ele, tomamos as Suas semelhanças, falamos as suas palavras e aí fica difícil das pessoas reconhecerem Ele em nós, pensando que a causa de todo aquele amor, carinho, empenho somos nós...
Ao gastarmos o nosso tempo com Ele solidificamos os elos que ligam todas as outras peças, o casamento, as amizades, os relacionamentos, os compromissos, a lealdade, o sacrifício, a empatia, a motivação, tornando-as fortes e seguras, não em nós mesmos, mas naquele que habita em nós.
Conheçamos e prossigamos em conhecer o nosso Deus, fruto da vida de Jesus, e quando o conhecemos inevitavelmente o fazemos conhecido. Nós o conhecemos através daquilo que aprendemos com Jesus, agora permite-me Jesus,  fazer-Te conhecido com o fruto da minha vida.
Esta é a minha oração...

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